O Grande Inimigo dos Práticos
Carlos Alberto Souza Filho - Prático
Quando o prático é surpreendido por um nevoeiro durante as manobras, ele imediatamente reduz a velocidade, para que tudo aconteça mais lentamente e possa avaliar a situação pelo radar. Além do que, se houver algum erro ou abalroamento em baixa velocidade, o dano vai ser menor. Em alguns lugares é possível simplesmente fundear, parar e esperar o final do nevoeiro, mas aqui em Santos não há lugares com espaço suficiente para largar a âncora e parar o navio. Nossa única opção é navegar.
Talvez essa seja a situação mais perigosa para qualquer prático. O nevoeiro pode surgir do nada, e mesmo sabendo que há possibilidades de acontecer e que existem condições propícias reinantes, é sempre imprevisível. Mesmo com uma massa de ar úmido frio ou quente e a temperatura da água inversa e tem uma pequena brisa, nunca teremos certeza de que esse ponto de condensação com ar saturado de água vai ser atingido. Mas quando é atingido é instantâneo.
Eu já passei por isso duas vezes. Muitas vezes estamos navegando, podem ter 5, 6 navios no Canal, entrando ou saindo nos cruzamento previstos, e a visibilidade ficar praticamente zero. E realmente não se consegue enxergar nem o navio. Fica uma nuvem na vigia (escotilha) do navio. Claro pode ser em diferentes níveis. Comigo uma vez ficou literalmente zero, não enxergava nada. Eu ia atracar, conversei com o comandante para ele se sentir confiante, fui falando no rádio com o atracador, usando o rebocador. Felizmente o radar tinha uma ótima qualidade e definição. Eu falava com o atracador e ele também não me enxergava, praticamente só enxergou quando estávamos a dez metros do cais.
E de onde vêm os nevoeiros tão perigosos? A condição fundamental é o ar
estar úmido (mais de 90% de umidade relativa) e haver uma diferença de temperatura entre esse ar úmido e a superfície do mar. Ele pode ser formar tanto porque vem um ar mais frio e com bastante umidade e a superfície do mar está mais quente ou o inverso. E tem que ter, ainda, pelo menos um pouco de vento que faça circular a umidade dentro desse ar e que grande parte dela tenha contato com essa diferença de temperatura. Na temperatura de condensação se forma uma nuvem.
É importante que o radar da embarcação esteja em boas condições, o prático dependerá muito dele, da sua experiência e conhecimento da região para fazer a manobra sem visibilidade alguma. O próprio prático faz os ajustes para as condições reinantes, com uma série de controles para obter a melhor definição, a potência de emissão, usando alguns filtros para tentar buscar a condição ótima.
Outro cuidado essencial é usar os sinais de baixa visibilidade assim que começar o nevoeiro. No nosso caso, pelo tamanho dos navios, é um apito longo que dura entre 4 a 6 segundos, em intervalos não superiores a dois minutos. Os sinais sonoros em baixa visibilidade variam de acordo com o tipo e o tamanho das embarcações e se estão em movimento ou fundeadas.
O apito longo é caracterizado pelo apito grave do navio com uma duração de quatro a seis segundos. Quando há cruzamentos é bem complexo porque o canal é estreito e quando os dois navios estão se cruzando a parte borrada do radar pelos próprios obstáculos do navio tem um poder pequeno de discriminação para avaliar se a distância é segura.